PINK FRAUD (2024)


Desde que recebi a proposta de colaborar com a companhia tanzmainz, senti a necessidade de me relacionar com o filme "O Som ao Redor" do realizador brasileiro Kleber Mendonça Filho.

Neste filme, Kleber Mendonça constrói uma narrativa baseada num bairro de classe média do Recife (Nordeste do Brasil) onde uma empresa de segurança privada é contratada para proteger um condomínio da violência do bairro. A empresa de segurança, que deveria trazer paz, revela-se um gerador de violência, criando mais instabilidade naquele frágil ecossistema social.

Kleber Mendonça cria brilhantemente um ambiente de tensão, uma narrativa que não demonstra explicitamente a violência mas que nos faz sentir que algo não está bem, que há violência naquela paz artificialmente promovida. E isso inspirou-me.

Provavelmente porque me identifico com a mesma tensão, com as mesmas contradições do paradigma atual: o momento do planeta Terra em que desfrutamos do auge do desenvolvimento tecnológico e da abundância material coexiste com a iminência de múltiplas catástrofes, sociais e ecológicas.

Os primeiros estudos para a criação de "Pink Fraud" baseiam-se nessa sensação agridoce de usufruir da plenitude das conquistas e organizações humanas, as mesmas conquistas e organizações que podem conduzir-nos a um mundo de calamidades.